João Pessoa
João
Pessoa é um paraíso. Das cidades nordestinas que
conhecemos, é a mais bela, limpa, gostosa, arejada.
Estivemos por alí dia 06/01/2008 (era para termos chegado
dia 05, mas devido ao descaso da Ocean Air, somado à pouca
vergonha e incompetência da Anac e Infraero, atrasamos só
24 horas) mas assim que chegamos, nos encantamos com a cidade.
Logo no primeiro dia pegamos um city tour - não, não
é por estarmos ficando velhos, mas para dar uma olhada geral. E
valeu a pena. Fomos ao centro, e tivemos uma visão geral da
cidade, que nos ajudou a partir do dia seguinte, quando alugamos um
carro, o que eu recomendo, pois você fica livre para ir e vir.
João Pessoa é realmente especial. Nas
duas primeiras quadras, a partir da orla, não se pode construir
prédios. Isso faz com que a cidade fique arejada mesmo lá
no centro. Você passeia e não sente aquele calorão.
É muito gostoso. E quem vem de São Paulo até
estranha a falta de pichação e de cocô de cachorro
nas ruas. Não que não haja cães, mas seus donos
são civilizados e recolhem o cocô.
Ficamos hospedados, como sempre longe do buchicho,
na Praia do Cabo Branco. Aliás, a Avenida do Cabo Branco fica
fechada aos veículos todos os dias das 5 às 8 horas para
as pessoas fazerem suas caminhadas. Muito simpático.
À noite fomos assistir a uma peça no
Teatro Santa Roza. A peça era péssima, mas o teatro uma
jóia. Construido em 1889, é mantido intocado, com as
cadeiras, camarotes, forro, tudo original. Vale uma visita, e se a
peça for muito ruim, você sempre pode sair no meio...
Dia seguinte, vamos sair pelo sertão. Tomamos
a estrada de Campina Grande com planos de parar um pouquinho em
Ingá para ver a tão famosa Itaquatiara de Ingá. A
desolação do sertão, a respeito da qual já
falei na viagem à Serra da Capivara, nos comove. Mas a falta de
educação desse mesmo povo sofrido também é
digna de nota. Eles jogam todo o lixo, sacos plásticos,
garrafas, enfim tudo, às margens da rodovia. Que cenário
deprimente.
Por fim chegamos a Ingá, cidadezinha perdida
no meio do nada. A propaganda das lojas de Ingá é feita
através de carros de som. Eles circulam pela pracinha do centro,
cada qual anunciando um produto de determinada loja, tentando superar o
concorrente aumentando o volume. Pernas pra que te quero! Fugimos.
E fomos à Pedra. Ao avistá-la, os olhos de Sílvia
marejaram. "Nunca pensei que pudesse vê-la ao vivo". É
realmente uma emoção ver aquela pedra, que fica no meio
de um rio, seco nesta época do ano, toda desenhada em baixo
relêvo. Segundo o casal que lá vive e toma conta deste que
é um dos sítios arqueológicos mais importantes do
Nordeste, em julho as águas do rio cobrem a pedra. E,
relembrando a luta de Niède Guidon na Serra da Capivara,
até a luz da casinha deste casal e do museu é paga por
eles. Por onde andará o Ministério da Cultura?
Encontramos por alí uma família pernambucana, cujo
patriarca é músico e tem o nome de guerra de Valter
Vinícius, mas que ouve música do folclore nordestino
original, o que encantou Sílvia, e lá ficamos proseando,
e Valter presenteando a Sílvia com um CD cada vez que ela dizia
"que música linda!". Muito simpático o gajo. E o tempo
passou e não fomos a Campina Grande, pois era hora de voltar.
Em João Pessoa se come bem. Não
tão bem como em Floripa, mas a comida é boa e barata. Se
você quiser experimentar comida regional, vá ao afamado
Mangai na praia de Manaíra. É um restaurante por quilo, e
você saboreia um pouco de cada prato típico. O bode
é uma delícia.
E depois do jantar tem coisa melhor que
dançar um bom forró-pé-de-serra? Encontramos um
lá na Praia do Tambaú e nos divertimos a valer. Se eu sei
dançar forró? Não, pena que não, mas tentar
dar uns passos e apreciar o pessoal que sabe já é uma
delícia.
Bom, mas João Pessoa também tem
praias. Esqueça a parte norte, que só tem praias urbanas
e vá para o sul.
Se você está viajando com
crianças, a Barra de Gramame será interessante.
É a foz de um rio e as crianças podem brincar na
água doce. Este lugar tem de sobra o que os guias chamam de
"ponto de apoio", ou seja, botecos com música no máximo
volume que te servem peixe frito, coco, cerveja, etc. Até
hoje não consegui entender a filosofia brasileira do "quanto
mais música estridente, melhor". Brasileira, sim, pois a coisa
acontece de norte a sul, enquanto em outros países as pessoas
vão à praia ou ao campo para descansar, ouvir a natureza,
conversar, enfim, desestressar.
Mas praia bonita mesmo, nós conhecemos duas:
Coqueirinho, que se você se afastar do "ponto de apoio",
terá uma praia deslumbrante pela frente, com mar bravo, é
bem verdade, mas sossegada e gostosa. E Tambaba, prainha pequena, cheia
de lagoinhas formadas entre as pedras, que por ser tão linda
atrai uma multidão. Mas sempre há a outra Tambaba, a
praia naturista, linda, com pouca gente, uma pousada no meio dela com
um boteco SEM música, caramanchões para você poder
se esconder do sol. E, se você nunca experimentou, vale a pena
tomar banho de mar totalmente livre, sem calção, como
você veio ao mundo. É simplesmente uma delícia.
Para quem gosta de se torrar ao sol e de muvuca,
há ainda os passeios de Picãozinho (um local mar adentro
para se ver corais) e Areia Vermelha (um banco de areia que na
maré baixa lota de barcos com música e peixe frito) -
não, nós não fomos.
E quase me esqueci do por do sol na praia do Jacaré ao som do
Bolero de Ravel, que tambem não contou com nossa presença.
De qualquer forma, eu digo e repito: João Pessoa é um paraíso.