Etiópia
A Etiópia é uma verdadeira Torre de Babel. Um país com cerca de 94 milhões de habitantes possui 84 idiomas e 200 dialetos. Sim, os numeros são esses.... O idioma oficial é o amárico, que é ensinado nas escolas. No segundo grau aprende-se tambem o inglês, alem, é claro, do idioma da sua etnia.
A população é formada por cristãos (45%), muçulmanos (35%) e 20% do resto. E todos vivem em paz.
Extremamente religiosos, cristãos ortodoxos respeitam o velho e o novo testamentos. São descendentes do Rei Salomao e da Rainha de Sabá, através de seu filho Menelic I que saiu de Jerusalém com a Arca da Aliança e veio para cá. Com ele vieram muitos judeus que se estabeleceram em Gondar, e formaram a tribo dos Falachas. Gondar foi a primeira capital da Etiópia. A Arca foi guardada no fundo do lago Tana onde ficou por 800 anos até ser recuperada e levada para Axum onde permanece até hoje. Todas as igrejas possuem uma cópia da Arca da Aliança guardada no principal local da igreja e onde só o cura da igreja pode entrar.
A missa começa todo dia às 5 horas da manhã e todas as igrejas a transmitem no máximo volume com alto falantes externos. A missa dura 3 horas, sempre em pé. Portanto aí vai a primeira dica: se você não quiser madrugar, leve tampões de ouvido!
Como todos sabemos, o café foi descoberto na Etiópia, e continua sendo uma bebida especial. Nunca se toma café sozinho. É necessário ter companhia. O café é tomado tres vezes por dia, em uma cerimônia que inclui incenso, pipoca e folhas de papiro espalhadas pelo chão. É o momento em que a família se reune para conversar, se aconselhar, os eventuais problemas familiares ou com vizinhos são discutidos.
E o café etiope é muito bom quando preparado da maneira convencional. Ocorre que o pais está querendo se modernizar e importou lindas máquinas de café expresso da Itália e eles põem o pó nessas máquinas e o café sai horroroso...
O país é, talvez, o único da África que nunca foi “colonizado” por europeus. Os últimos a tentar foram os italianos em 1937 e dalí fugiram com o rabo entre as pernas (menos nono Francesco que por lá ficou e foi por causa dele que viemos cair aqui. Mas esta é outra estória). Mas deixaram um pouco de sua cultura na cozinha. Ainda bem. A comida típica etíope é a injera, espécie de panqueca feita com um grão chamado teff, esponjosa e azeda, que se rasga e come com pedaços de carne cozida ou molhos e muita pimenta. Muita! E se você pedir sem pimenta eles farão com o maior prazer; acontece que “sem pimenta” para eles é muito apimentado para nós...... Eles comem injera no café, almoço e jantar. Sem talheres, só com a mão direita. Eu bem que tentei comer algumas vezes, mas até para mim há um limite.... Aí entra a a cultura italiana. Eles fazem um macarrão delicioso, desde que você consiga convencê-los a fazer sem pimenta.
Noventa porcento da população vive no campo. São agicultores ou pastores. Os homens trabalham a terra e as mulheres vão buscar água em poços, juntar lenha para o fogão ou para vender, levar a produção para a feira. De tanto carregar coisas nas costas, as mulheres formam uma entrada na coluna e se abaixam sem dobrar os joelhos. E começam bem jovens: meninas de 5 anos de idade já levam seus irmãos nas costas, e meninos já são pastores com essa idade. Quando chegam da escola vão ajudar os pais. E por falar em escolas, a melhor construção em cada povoado é sempre a escola. É sempre feita em alvenaria, enquanto as casas são feitas de adobe. A expectativa de vida não passa dos 50 anos. Aos 40 eles já não enxergam devido à catarata. Não escovam os dentes; passam o dia mascando um pauzinho que se desfaz na boca e promove uma escovação superficial.
O atual governo está tentando modernizar o país levando eletricidade e celular para os mais afastados recônditos. Até no meio do deserto tem sinal de celular, e todo mundo tem um. Os chineses estão invadindo o país, construindo estradas asfaltadas. Falando nisso, não vimos uma única placa de sinalização nas estradas. Nem com gps conseguimos acertar o caminho. O único jeito é ir perguntando para quem aparece. E nosso motorista era um etíope profissional.... Assim, com estradas de terra, rebanhos passeando, pessoas viajando no meio delas, errando o caminho o tempo todo, quaisquer 100 quilômetros se faz em apenas duas a três horas....
Mesmo assim o país ainda vive na Idade Média. Há mercado toda semana na maior cidade da região, para onde vão as pessoas dos povoados em volta. Chegam a andar dois dias para levar sua produção para a feira. No caminho, quando anoitece, simplesmente deitam no chão e dormem. Os povoados têm esgoto a céu aberto e as pessoas curtem o couro de cabra na rua mesmo. Vacas, ovelhas, cabras, burros e pessoas passeiam pelas ruas das cidades e pelas estradas, sem prestar atenção ao trânsito de veículos. E por favor, não buzine. Desvie deles, pois eles não sairão do caminho. Máquinas para agricultura ainda não chegaram por lá. Aram a terra com arado de madeira puxado por dois bois. No sul, onde a terra é úmida e boa não é tão difícil, mas no norte a terra é seca e pedregosa e aí a coisa fica realmente difícil.
A moeda etíope é o birr. US$ 1,00 equivale a 20 birr. A maior denominação é a nota de 100 birr, ou seja, 5 dólares, que é muito dinheiro para eles. Uma cabra ou ovelha, no campo, custa de 400 a 500 birr. Em Addis custa 800. Uma casa financiada pelo governo custa o equivalente a US$ 15.000,00 financiados em 15 anos, e não são muitos os que podem comprar. O salário mínimo oficial é de 1.200 birr, mas duvido que muita gente ganhe isso.
Um prato de massa num bom restaurante custa por
volta de 60 birr (faça as contas...) e a refeição mais cara que
tivemos, no melhor hotel de Mekele, delicioso, saiu por US$ 9,00 por
pessoa com cerveja e café ....... Já a comida típica é bem mais barata.
Os etíopes têm um problema com segurança que eu não consegui desvendar. Todos os lugares grandes onde você entra, hotéis, shoppings, supermercados, têm uma máquina de raios x daquelas de aeroporto para as mochilas, bolsas e pacotes e depois a gente passa num detetor de metais e finalmente se é examinado fisicamente, homem por homem, mulher por mulher. Não sei se é para dar empregos, mas depois de um tempo você só entra num lugar se realmente estiver a fim!!!
A paranóia é tal que o Piero foi barrado no nosso hotel em Adis por ter na mochila pontas de flechas e facas compradas de algumas tribos. O material foi apreendido e devolvido só na saída......
Adis Abeba: a maior cidade. Uma bagunça total. Não há semáforos e cada motorista faz exatamente o que quer. Pobreza indescritível. As ruas não tem calçadas e as poucas que têm são de terra e servem de estacionamento. De vez em quando aparece um guarda para multar, e após aplicar a multa ele leva a placa dianteira do carro. Só após o pagamento da multa o motorista recebe sua placa de volta.
Possui o maior mercado ao ar livre da África, e eventualmente do mundo: o Mercato. É do tamanho de um bairro de São Paulo, e cada rua tem sua especialidade. De acordo com Rachel, a 25 de março é um Shopping Iguatemi perto do Mercato.......
Bahir Dar: cidade simpática, com 70 anos de idade, avenidas largas, cujo meio de transporte é o tuc-tuc. O mercado é grande e imundo, onde crianças e ratos brincam juntos.
Uma coisa que muito me impressionou é que os barcos do Lago Tana são exatamente iguais aos do Titicaca. Mesmo formato, mesmo material e mesmo tipo de contrução. Lá do outro lado do mundo...
Gondar:
comer no restaurante Four
Sisters.
É imperdível. É
aqui que moram até hoje os Falachas.
Estima-se que sejam em torno de 400 pessoas. Não entendi
porque não foram todos para Israel quando houve a grande seca
e Israel os levou para lá. A sinagoga não
tem Aron Hacodesh e só
é utilizada em festas especiais.
Simien Park: só se entra no parque com guia próprio e guarda armado, apesar de não haver animais perigosos. Realmente não vale a pena a subida para ver alguns lindos macaquinhos. E para fazer trekking, sinceramente há muitos outros lugares mais agradáveis e bonitos no mundo.
Lalibela: pequena, ruas de terra,
um pó só. Não tem mesquitas. É
o único lugar da Etiópia que não pode ter mesquitas. E moscas.
Tem um montão de moscas. E não adianta repelente. Elas te
adoram.
Axum: é onde está guardada a verdadeira Arca da Aliança. Numa igreja onde só homens podem entrar, mas só o sumo sacerdote pode vê-la uma vez por ano. Exatamente como no Templo de Jerusalem.
Tem também uma igreja só para homens que se entra subindo por uma corda. Não, eu não subi.Mekele: cidade grande, industrial, onde após 14 dias tivemos um maravilhoso reveilon: comemos carne !!! Deliciosa, no melhor hotel da viagem, o Planet Hotel por aquele preço que eu disse la em cima.
Dalol: depois da bonança vem a tempestade, ou é o contrário? Cinco horas de viagem por estradas de terra, perdendo-nos no caminho, descemos de 2.100m para -130m. Aqui só há muçulmanos. Os cristãos não vêm para cá. Os homens vestem saias. Só se pode entrar neste deserto acompanhado de seguranças do exército, pois em 2012 um grupo de muçulmanos da Eritréia sequestrou e matou um grupo de alemães.
É um deserto de sal. Daqui é extraido o sal que se usa no país. Além do sal há formações de enxofre com água subterrânea que resulta em lagos borbulhantes de ácido sulfúrico com cores lindas. Foi aqui que passamos nossa noite num hotel 1001 estrêlas. As cabanas servem de cozinha, banheiro, curral, ou qualquer coisa que não seja fugir do sol. E foi aqui que tivemos uma das melhores refeições da viagem. Nosso cozinheiro fez milagres. Inclusive ele trouxe um galo para servir de jantar no dia seguinte, galo este que começou a cantar ás quatro da manhã, o que causou um certo alvoroço no acampamento a ponto de um gringo vir ter com o cozinheiro gritando: “You must shut up the chicken.... You understand me??? Shut up the chicken.”
Após visitarmos as formações, teríamos que ficar do meio dia até o dia seguinte para podermos sair por um trekking de 4 horas para visitar o vulcão Erta Ale, o único do mundo com um lago de lava. Mas no Dalol não há uma única sombra para refrescar e depois enfrentar 8 horas de caminhada, nem que fosse em cima de camelos, nos tirou toda a vontade de ver o vulcão. Dizem que vale a pena, mas aconselho a ir com uma idade mais apropriada.
As caravanas de sal saem daqui e andam 200km subindo de -130m a 2.100m para Mekele em 3 dias para vender o sal a 80/90 birr por bloco de uns 3kg.
Depois disso fomos para o sul visitar tribos. O sul tem terra boa, sem pedras, com lagos e é muito verde. Claro que existe um pouco de circo nessas visitas às tribos, mas a gente realmente vê onde eles vivem.
Das tribos que vimos, eu aconselho os Hamer, cujas mulheres casadas usam franjinha linda, feita de barro e gordura e o número de colares mostra se é a primeira, segunda,..esposa e os Hari que apesar de ser ocidentalizados são muito simpáticos e trabalham lindamente cerâmica e ferro.
Os Mursi que usam argolas na boca são agressivos e feios. Não vale a pena.
Estou anexando nosso roteiro para quem quiser se aventurar. A empresa que nos levou não foi perfeita, houve um bocado de trocas de e-mail de reclamação, mas não vimos coisa melhor por lá.
Enfim, quando você for, leve lápis, canetas, cadernos, brinquedinhos para distribuir entre as crianças.