Cuba
Cuba é uma dicotomia: existe a Cuba dos turistas e a dos cubanos. Totalmente opostas. Então, vamos dar uma olhada nesses dois países em um só.
Cheguei lá no dia 06/02/2012. Para entrar, você precisa de visto, que pode ser comprado em qualquer agência de viagens ou na companhia aérea. Custa US$ 20,00 e ninguém quer ver seu passaporte. Pagou, levou. A entrada é complicada. O agente compara você com a foto do passaporte, te fotografa, faz cara de mau, carimba uma porção de papéis (menos o seu passaporte) e te manda entrar por uma porta trancada, que ele libera da guarita. A saída é um pouco pior, pois você pode ser um cubano que pegou um passaporte emprestado... Então chegue com muito tempo de antecedência ao aeroporto.
Uma vez lá dentro, vá trocar dinheiro. Existem dois tipos de peso cubano: a moeda nacional e a dos turistas. Um peso turista, chamado CUC, vale 25 pesos moeda nacional (mn). E um dolar norte americano vale 0,97 CUC. Mas para trocar dolar (e só dolar, portanto se puder leve outra moeda) você paga uma multa de 10%. Por fim chega-se a: US$1,00 = 0,87 CUC, ou 1 CUC = US$1,15. Ufa!!!
Cheguei à noite e fui levado direto para Varadero. Após tres horas de viagem, chega-se ao paraíso. Varadero é uma cidade de resorts. Literalmente, dezenas. Todos “all inclusive”, alguns inclusive bebidas. Quem leu minhas outras viagens vai, no mínimo, estranhar. Mas eu realmente larguei a mochila e as barracas para curtir este outro lado de uma viagem.
A praia do Caribe é muito bonita. Areia clara e um mar azul até o infinito. Mas desculpem-me os aficionados, nosso nordeste dá de 10 a zero... A primeira manhã foi na praia, e já que você está lá, e os “tios” do hotel estão chamando para aprender a dançar merengue, você vai com um mojito na mão. E depois dele, uma adelita, margarita, coco-loco até terminar o cardápio de bebidas. Aí começa a aula de aeróbica e o menu tambem, né? Eu, que nunca tinha ido a um resort, fiquei bobo. Os garçons correm atrás de você oferecendo comida e bebida o tempo todo. E as atividades dos “tios” não param, desde a manhã até a madrugada. Até assisti a uma encenação do Rei Leão, com música ao vivo e atores-cantores, que eu perdi na Broadway...
A loucura é tal, que uma manhã, após o café, estava eu indo à piscina quando deparei com uma garota loirinha (pelo menos para minha idade, é uma garota) batendo na porta do bar central. Eu disse a ela que o bar só abria às 9 horas e ela me respondeu que queria tomar o café da manhã. Muito solícito, indiquei o caminho do restaurante ao que ela respondeu: mas eu quero um café espanhol!!! - para quem não sabe, é meia xícara de café com leite bem quente e o resto de licor de café...
Gente, como disse um dos garçons: isto é Varadero, não é Cuba!
Ao
voltar para o hotel, usando o mesmo bilhete, a cobradora pediu que eu
o jogasse no lixo do ônibus (ela sabe que os cubanos os pedem para
economizar algo), ao que eu perguntei se não era válido por um dia
inteiro, pois eu iria reutilizá-lo. E assim o conservei.
Após
tres dias dessa vida nababesca, fui para Havana. E aí, sim, terminei de
entrar em Cuba.
A baía de Havana é linda, mas a cidade
é suja, esburacada, quase não há faixas de pedestre e onde as há,
os carros passam por cima dos que se arriscam a atravessar a rua. Os ônibus estão sempre
superlotados. Há pedintes e mendigos remexendo o lixo. Tudo aquilo
que eu pensei não encontrar aqui. Afinal onde está o socialismo tão
cantado por todos os esquerdistas do mundo? Acho que eles só
socializaram a pobreza. Os prédios históricos da parte antiga estão
caindo aos pedaços, muitos servindo de cortiços. Os armazens não
tem nada, as quitandas idem. As farmácias não tem medicamentos;
aliás, é proibido fotografá-las. Eu levei uma bronca enorme ao
fotografar esta. O salário varia de 300 a 500 pesos m.n. por mês, o
que dá de US$ 14,00 a US$ 23,00 dependendo da sua formação
acadêmica.
Há escola para todos, isto é verdade, inclusive de idiomas como o inglês e francês, grátis. É só querer estudar. A educação é obrigatória até o final do ensino médio e quem quiser entrar na faculdade tem que passar no vestibular. Mas poucos fazem faculdade, pois as famílias não tem como sustentá-los, então os jovens entram no mercado de trabalho logo após o ensino médio.
A
comida é racionada. Todos tem uma caderneta, como em época de
guerra. Cada pessoa tem o direito de comprar ½ quilo de arroz, ¼ de
litro de óleo e assim por diante, por mês, a preço subsidiado. Se
quiser mais, o preço é em CUC, no supermercado. E o supermercado é este...
Há
filas para tudo: padaria, comer fora, compras.
A
gasolina custa 1 CUC / litro. Com a “abertura” do atual governo,
os donos dos carros da década de 50 os utilizam como taxis. Outros transformaram suas bicicletas. Muitos
montam uma lojinha em frente de casa.
O
narcisismo do governo supera tudo. Todos os outdoors falam da
maravilha da vida na ilha. Os programas de televisão só comentam as
atrocidades dos imperialistas.
E
com tudo isso, gente, os cubanos são sorridentes, as mulheres
vaidosas, todos de uma bondade incrível. Como eles mesmos dizem, “eu só conheço isto, então não
vale a pena chorar, mas meus pais e avós dizem que a vida era bem
melhor antes da revolução...” E por que ninguém se revolta?,
pergunto eu. “Porque o governo detem o poder”.
E aí eu penso
nessas “campanhas do desarmamento” que o nosso governo tanto
enaltece.
Agora eu entendo porque, na época da ditadura aqui no Brasil, os “exilados políticos” foram todos para Paris e não para Cuba! Que pena...