San Pedro de Atacama
    San Pedro de Atacama é um oásis. Você desembarca em Calama, toma um ônibus, e depois de uns 60 minutos percorrendo uma estrada no meio do deserto, vê lá ao longe um oásis com árvores e plantações. É San Pedro. A cidade é pequena, menos de 5.000 habitantes, todos muito simpáticos e gentis, aliás uma característica do Chile. Chegamos a este encanto de cidade em 04/01/07, com muita vontade de fazer caminhadas, mas a altitude (2.400m), o calor escaldante e a secura do ar venceram nossa vontade... Caminhada de verdade é difícil fazer, pois todos os encantos ficam fora do oásis. É claro que você pode ir a alguns deles a cavalo ou bicicleta, mas haja pernas para esta última opção. Enfim, fomos de carro mesmo.
    A primeira manhã deve ser aproveitada para percorrer a cidade, bem devagar senão ela acaba logo. Assim você vai se aclimatando. Você logo perceberá que o equipamento mais importante é uma garrafa de água. Por onde quer que você vá, lá está ele; imponente, roubando a cena, a apenas 50 km daí ergue-se majestoso o Licancabur. É um vulcão que está dormindo, apenas esperando a hora de acordar... Falando nisso, há vários vulcões na região, inclusive o Lascar, que em abril de 2006 entrou em erupção, sempre soltando uma fumarola pela cratera. Emocionante!!!
À tarde, o programa dos recém chegados é assistir ao por do sol no Valle de la Luna. Antes, porem, uma passada pelo Valle de la Muerte para entrar no rítmo do deserto. No fim da tarde todos sobem uma duna, já no Valle de la Luna, e se preparam para o espetáculo do mestre de cerimônias, Sr. Sol.
    Dia seguinte fomos passear no Salar de Atacama. Imagine um deserto de sal de 100km de comprimento por 50 de largura. É ele. No meio do salar há duas lagoas onde moram alguns flamingos, mas você não poderá chegar perto deles. O que impressiona são os cristais de sal, tão duros quanto pedra. Saindo de lá, fomos visitar duas lagoas altiplânicas, a 4.150 metros de altitude. Ao entrar no parque das lagoas, descemos do carro para fazer uma caminhada de cerca de 1 hora. É claro que como eu estava no deserto, no verão, ao meio dia, jamais pensaria em levar casaco. Esqueci da altitude e do vento. Gente, eu gelei. Devido ao frio, aproveitei só uns 50% da caminhada. Mas foi o suficiente para me deslumbrar com a vista. Almoçamos à beira das lagoas, e depois da siesta tomamos o caminho de volta. A 38 km de San Pedro está a cidade de Toconao, fundada originalmente pelo povo Lickan-Antay, de uma cultura de alguns milhares de anos. Sobram poucas construções históricas na cidade. De qualquer forma, não deixe de visitar a Quebrada de Jere, um vale profundo por onde corre um riacho e onde os moradores plantam pequenas peras, do tamanho de uma lichia, mas com um sabor intenso e delicioso, damascos e figos secos. Passeamos por dentro do riacho, que é o centro da vida daquelas pessoas; esse é o lugar onde eles fazem seus piqueniques, nadam e se divertem. Segundo a Sílvia, é lá que fica o Eden... Maravilhoso final de dia, após tantas horas no deserto. Agora vamos jantar e dormir cedo, pois iremos acordar às 3 horas...
    De pé e morrendo de sono, lá vamos nós às 4 horas da manhã para os Geisers del Tatio. São só 90 km de estrada (estrada???) percorridos em apenas 2 horas e meia... Eu não consegui saber o porquê, mas estes geisers gostam de se apresentar ao nascer do sol. Pode não ser um horário agradável, mas é bem romântico, não? A excitação toma conta da gente ao chegar perto do campo geotermal. Até hoje eu só havia visto geisers em desenho animado. O campo fica entre dois vulcões, chamados El Tatio, e, conforme combinado, quando o sol dá sinal de sua presença, aquelas dezenas de buracos no chão começam a fumegar e jorrar água fervente a 85° centígrados. Sim, "apenas" 85°, pois estamos a 4.320 metros de altitude com temperatura entre 0° e -5° C. Desta vez eu trouxe casacos...
Não consigo colocar em palavras o espetáculo. É realmente indescritível. Só falta o Zé Colméia. E após o nascer do sol, todos os geisers vão se acalmando até terminarem sua apresentação. Há no campo uma lagoa de águas térmicas para os mais aventureiros se banharem, e os europeus não se fazem de rogados. Despem-se na frente de todos, colocam roupa de banho e esbaldam-se na água. Na volta passamos por vários animais, guanacos, lhamas, alpacas, e por um simpático povoado, Machuca. Nesta noite e na seguinte tentamos fazer um tour astronômico, mas não conseguimos, pois o céu estava nublado, coisa rara por aqui.
    Ao norte de San Pedro, no caminho dos geisers, a terra de repente se abre formando uma ravina profunda, de onde jorra, vinda do subsolo (será que é do campo geotermal?), uma fonte de água límpida e quente: as Termas de Puritama. Que lugar mais gostoso para se passar uma ou duas horas! A água vai formando umas 6 ou 7 piscinas, e se você tiver sorte como nós, ficará com uma só para você.
    O dia seguinte foi cultural. Pela manhã fomos à Pukará (Fortaleza) de Quitor, que fica apenas a 3 quilômetros de San Pedro. Esta fortaleza foi construida no século XII pelos atacamenhos, para se defenderem dos incas. Após a vitória inca, a fortaleza foi usada por estes contra os espanhóis. A seus pés corre o Rio San Pedro, formado pelo degêlo nos Andes, que é o responsável pela vida no oásis. Depois disso fomos à Aldeia de Tulor, uns 10 quilômetros ao sul de San Pedro. Tulor foi construida há cerca de 2.800 anos e foi um posto de comércio entre o altiplano e a costa do Pacífico até o ano 500. Era banhada pelo Rio San Pedro antes que este mudasse seu curso. As casas eram circulares, conforme estes modelos. A aldeia continua praticamente toda enterrada. Quando será que vão escavá-la?
Voltando a San Pedro fomos visitar o museu, que apesar de ser pequeno nos tomou um bom par de horas. Extremamente bem montado e muito didático, explica toda a ocupação atacamenha, inca e espanhola da região. Mostra os artefatos usados, inclusive, no caso de materiais feitos de pedra, a pedra bruta, o modo de cortá-la e o produto final. Apesar de haver múmias, os atacamenhos não mumificavam seus mortos. Foi o próprio clima que os conservou.
    O último dia foi dedicado á natação. Voltamos ao Salar de Atacama e fomos nos banhar nas Lagunas Cejas. São 3 lagoas no meio do salar, formadas por algum rio subterrâneo. Têm uma concentração de sal tão grande que é simplesmente impossível afundar nelas. Você bóia feito uma rolha de cortiça.
   
    Para terminar nosso passeio, fomos passar tres dias em Santiago, cidade que não conhecíamos. Aqui não chove entre outubro e abril; mas não chove mesmo!!! Até em San Pedro havia mais nuvens no céu. Mas não é por isso que Santiago deixa de ser verde. Há praças por todo lado, uma após a outra. Árvores em todas as ruas, todo o verde sendo irrigado. A água da cidade vem do degêlo dos Andes.
    Aconteceu-nos aqui um fato singular. Estávamos visitando a Igreja de São Francisco e nos encaixamos num grupo de monitores (auxiliares de professores em sala de aula) que participavam de uma aula no museu da igreja (imperdível!!!). Um dos tres educadores do museu, ao final da excursão se propôs a nos acompanhar aos museus de Belas Artes e Pré Colombiano (também imperdível!!!). Como não sabíamos quando iríamos a esses museus, agradecemos a oferta e fomos embora. Mais tarde, lendo um jornal de arte, descobrimos que o tal "professor" é um membro da Associação dos Críticos de Arte do Chile. Quando aqui no Brasil tal fato ocorreria???
    De qualquer forma, Santiago é linda, linda. Vale a pena. Só não perca tempo com Valparaiso e Viña del Mar. São deprimentes. Vão dizer que Valparaiso é um monumento tombado pela Unesco e outras baboseiras. Não perca tempo!!! Quanto à praia de Viña, é uma decepção. Quem conhece a Praia Grande em São Paulo, já viu coisa muito mais bonita.
    Fique em Santiago mesmo e desfrute de sua intensa vida cultural.
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