De volta ao paraíso!!!

 

          Chegamos a Lençóis em 15/07/06. Tempo nublado, garoa fina. E, acredite, frio... Mesmo assim, a magia do lugar me cativou. Quando vim à Chapada em 1999, não conheci Lençóis. Fui direto aos vales do Capão e do Paty.

          Almoçamos e passeamos pela cidade. Sílvia ficou um pouco decepcionada. Ela esteve aqui há 8 anos, e o tempo marca as coisas. A cidade cresceu, o mercado, que na época era um verdadeiro mercado onde as pessoas traziam sua produção agrícola para vender foi reformado e “modernizado” tornando-se um “centro cultural”  totalmente vazio e morto, com exceção do Café.Com, que tem um bom café expresso. De cultura mesmo só assistimos a uma demonstração fantástica de capoeira de um grupo da cidade. Mas em qualquer outro lugar da cidade, seria igualmente fantástico.

              No dia seguinte resolvemos passear pelas redondezas e fomos ao Serrano, um rio que passa pela cidade, e onde os moradores vão lavar a roupa. Alias, esse é um programa familiar nos finais de semana. A família vai inteira lavar a roupa alí.
Passeamos, visitamos o Salão de Areias, e foi alí no Serrano que eu, de repente, estirei o músculo da panturrilha!!! E não consegui mais andar. Arrastei-me até a pousada e despenquei na cama. Será que minha viagem terminaria alí???

          Nossa pousada era a Vila Serrano (http://www.vilaserrano.com.br), que não é das mais baratas, mas a simpatia da Sandra e do Chris compensa. Isso sem falar do bom gosto deles e do conforto que oferecem. Tendo feito por mim o que podia, Sílvia foi visitar o Ribeirão do Meio, enquanto eu ficava de molho. Pouco depois perguntei a Sandra se ela conhecia um bom massagista, e ela ligou para o Jacques (3334-1281), que veio me ver. Jacques é um canadense que se radicou por alí. O homem é mágico. Após uma sessão de massagem eu já estava andando quase sem mancar. De acordo com um morador autóctone: “Jacki é o único pai-de-santo belga que eu conheço”. Alias, Lençóis atrai as pessoas de uma forma incrível. Tem mais “gringos” (no bom sentido) morando aqui do que baianos...

     Como muita coisa que queríamos ver fica fora de Lençóis, batemos um papo com um guia que tem um amigo que tem um carro e por fim Renan nos guiou pelo mesmo preço de uma excursão, com a vantagem de ir no nosso tempo e para onde nós quiséssemos.

          O tempo abriu. Sol gostoso. Sílvia, que é louquinha por pinturas rupestres (veja nossa viagem para a Serra da Capivara), descobriu que na Chapada há inúmeros sítios não divulgados. E lá fomos nós e Renan passear.

          Fomos para o norte, para a Lapa Doce, uma gruta linda, linda, com uma boca enorme.

Ao lado dela, existe a Lapa do Sol, repleta de pinturas rupestres. Ficamos passeando por lá uma boa hora, acompanhados de Seu Vavá, um guia local com amor nato pelas pinturas.

          Próxima parada, Gruta da Pratinha, na fazenda do mesmo nome. O Rio da Pratinha sai da gruta a 24 graus, única água quente que há por lá. Banhar-se no rio é uma delícia, com os peixinhos te mordiscando a perna. Depois de um banho refrescante e um bom lanche de trilha (existe um restaurante por quilo com comida caseira, mas nós fugimos de São Paulo justamente para esquecer a “civilização”...), conversamos com o dono da fazenda e ele nos arranjou um guia para ver as pinturas numa gruta da fazenda vizinha. Aqui estão algumas. Interessante notar que as pinturas daqui são totalmente diferentes das do Piauí, mas são igualmente maravilhosas, e de grande importância histórica. O triste fica por conta do estado de abandono, muitas com pichações e fuligem de fogueiras feitas por eventuais caçadores ou pessoas que se abrigam nas grutas.

          Ainda fomos ver algumas pinturas mais, e, terminado o tour cultural, subimos o Pai Inácio. Esse morro-cartão-postal da Chapada é impressionante. A subida é fácil e a vista deslumbrante. Passeamos lá em cima um pouco, e fomos terminar o passeio no Rio Mucugezinho, onde fica o Poço do Diabo. Eu não entendi bem o porquê do nome, pois esta foi a água mais gelada que encontramos em Lençóis. Sílvia aproveitou, e depois do banho deu almoço para uns macaquinhos.

          Conhecemos um casal muito simpático, André (pernambucano) e Sara (potiguar de Caicó). Fizemos amizade e saímos algumas vezes com eles. Como íamos no dia seguinte subir a Fumaça, resolvemos ir os quatro no “nosso” Fiat Uno, pois eles também queriam subir devagar curtindo o caminho, e com minha panturrilha ainda sensível, sabíamos que teríamos todo o tempo do mundo para curtir.

          Dia seguinte, 8:00 horas, lá estava Renan pontual como sempre para nos pegar. Ajeitamo-nos os 5 no Fiat, com botas, mochilas, e a tralha toda.
No meu relato anterior da Chapada, comentei sobre a pizza de cenoura que comi em Caeté-Açu e que achei uma delícia. Durante anos comentei sobre essa pizza com a Sílvia, prometendo que um dia ela iria experimentá-la. Como Caeté-Açu fica a uns 3 quilometros da trilha da Fumaça, e todos quiseram experimentar a tal pizza (não sei se quiseram mesmo ou disseram que sim só pra me agradar, sem confiar muito no gosto de um viajante faminto de 7 anos atrás), combinamos com Renan que jantaríamos pizza.

          E lá fomos nós, por uma hora e pico chacoalhando por estrada de terra até a trilha da Fumaça. Abre parênteses: da outra vez, subimos Alan, Bruno, Ives e eu. Durante a trilha toda só nós quatro. Ao chegar lá em cima encontramos só dois rapazes. Fecha parênteses.

          Desta vez, o estacionamento parecia um de shopping. Quatro ou cinco vans de excursão, gente gritando, alongando, esticando. Deixamos que todos fossem na frente e Renan disse: “Não precisa levar água, pois tem vendedores lá em cima”... Eu não acreditei até chegarmos no alto da subida e toparmos com uma moça vendendo água, refrigerante, suco de fruta espremido na hora, e, pasmem, pastel de jaca! Aliás, uma delícia...
          A subida é composta de degraus, portanto mais difícil que uma simples trilha, mas como fomos realmente devagar, quase não sentimos. Ao chegar ao topo, e depois do lanche, vai-se pelo planalto por cerca de umas duas horas. Aproveite e caminhe tranquilo, pois o passeio não é só a Fumaça, mas toda a caminhada, com a linda vista que se descortina. Enfim, chegamos. O planalto abre-se numa ferradura, e a cachoeira fica lá no meio. Para ver a queda toda, você se deita numa pedra e alguém segura seus pés. Aí você olha para baixo. Se tiver coragem. É incrível como o abismo te suga. A sensação é realmente de vontade de pular. E eu não fui o único a sentir isso, não. Mas mesmo que você não veja toda a queda (desta vez não consegui), os paredões em volta, a mata lá em frente, a dimensão toda te faz sentir muito pequeno. E te faz pensar.

          Bom, hora do almoço, que ninguém é de ferro, e um tempo para relaxar. André e Sara foram se banhar no riacho que forma a cachoeira, enquanto Sílvia e eu fomos passear do outro lado da ferradura para ver a queda de frente. Depois disso toca a voltar. Nesta hora todos os grupos já haviam ido, e nós voltamos realmente passeando e aproveitando daquele ar tão especial, com o Morrão lá na nossa frente.

          Chegamos na base lá pelas 17 horas e fomos a Caeté-Açu. Alguém disse que quando você retorna a algum lugar, as coisas jamais serão iguais. A cidade cresceu, o movimento é grande, mas o clima ainda é gostoso. Direto à pizzaria, que agora tem um enorme salão ao ar livre lá nos fundos, e logo na entrada perguntei: “Tem pizza do quê?” E a resposta, como se eu fizesse essa pergunta todo dia, foi: “A messsssma!!!” e depois o complemento: “Também tem de banana.” Que delícia que nem tudo muda...  Claro que pedimos uma de cada, e dessa vez meus companheiros não quiseram me agradar não. Eles realmente amaram a pizza. Continua igualzinha, e se você comer com mel e pimenta, dá um gostinho só. Comemos tanto, que na volta nosso fiat se recusou a subir a ladeira e tivemos todos que descer. Fomos subindo a pé e pedimos ao Renan para apagar as luzes. Que céu mais radiante. De acordo com Sílvia, nem nos Andes vimos céu assim. Mas agora toca pra casa que já é tarde.

          Nos outros dias ficamos em Lençóis. Chega de andar de carro. Fomos ao Ribeirão do Meio, onde Sílvia tinha caído e se ralado toda naquele longínquo primeiro dia. Você atravessa a cidade até chegar à trilha. Bem no início da trilha há uma pousada linda, de uma alemã que se radicou aqui e casou com um baiano. A pousada está estrategicamente situada. Ao voltar cansado dê uma parada ali para comer alguma comidinha, seja uma salada, sanduiche ou um patê de iogurte com pepino e alho, delicioso. A trilha para o Ribeirão do Meio é fácil, simples, quase plana, dentro de mata, uma lindeza. Ao chegar lá, escolha um pocinho particular e curta a água descendo.

          Fomos, também, à Cachoeirinha. Ela fica logo acima do Serrano, e não sei se devido à proximidade da cidade, ou sua trilha curtinha (10 minutos), muito pouca gente vai até lá. Mas ela me surpreendeu. Eu me apaixonei por essa Cachoeirinha tão singela, com um poço rasinho, delicioso, e ao mesmo tempo tão majestosa. Não dá pra explicar. É algo mágico. Tão mágico quanto toda esta Chapada. Não há adjetivos, não há palavras que a descrevam. Você simplesmente tem que ir e sentir.

 

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